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Judô Imirim



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Abordagem geral

O Judô é um esporte que pode ser considerado como uma arte e uma filosofia de vida, podendo assim, ser visto como um dos esportes mais completos, pois como cultura física todas as partes do corpo entram em ação de todas as formas e se desenvolvem harmoniosamente, adquirindo força e flexibilidade. Filosoficamente seus princípios e sua disciplina complementam o trabalho que permite um desenvolvimento global do indivíduo.
Devido a estes adjetivos, segundo Alvim (1975) é que o Judô atrai em todo o mundo milhões de pessoas de ambos os sexos e idade variadas, e, no Brasil, de acordo com Franquini (1999) são mais de dois milhões de praticantes, tendo como principal meio de atração a sua importância na formação da personalidade. Ao se estudar a abrangência educacional do Judô, se observa que desde a sua origem a preocupação do seu criador foi de abordar uma arte onde o objetivo principal era que o indivíduo tivesse um desenvolvimento integral.
A prática do Judô, abrange muitas formas de trabalho, como os "Kata" que são formas clássicas de execução do movimento das técnicas; as diversas variações das técnicas introduzidas para efeito de combate denominado de "Waza". As divisões e sub-divisões de técnicas como as de projeção "Nage-Waza", as de imobilizações "Katame-Waza" e ainda as técnicas vitais -"Atemi-Waza".
Para Alvim (1975) o Judô Kodokan apresenta uma estrutura extensa e rígida, e também pouco conhecida pela maioria dos nossos judoístas e instrutores. O praticante graduado deve ter curiosidade para as técnicas desconhecidas e nossos instrutores devem mostrar a seus alunos a beleza do Judô em seu todo, e não como ocorre em muitas escolas, onde se dá ênfase as técnicas de competição, de jogar, estrangular e imobilizar. A técnica de defesa pessoal “GOSHINJUTSU-NO-KATA’’, por exemplo, é pouco praticada entre nós, sendo, no entanto a continuação lógica para judoistas graduados ou avançados em idade, e que ainda queiram permanecer ativos nas salas de treinamento.
Outra forma de prática que atualmente é realizada apenas precedendo a exames de graduação (preta para cima), são os “Kata” que pode ser traduzido como forma ou modelo, é um ritual de formas determinadas, imutáveis, medidas sincronizadas e previamente ensaiadas, até um máximo possível de perfeição de movimentos e concentração, tendo como objetivo final no caso do Judô, a perpetuação da modalidade. Sendo eles oficialmente oito com a inclusão do Shin-Kime-No-Kata (nova forma de defesa pessoal do Judô):
- Nage-No-Kata – é o primeiro composto por 15 projeções, dividido em cinco grupos de três projeções, aplicadas pela direita e esquerda;:
- Katame-No-Kata – são técnicas de solo, compõem-se de três grupos de cinco técnicas, aplicadas apenas pelo lado direito;
-Kime-No-Kata – é um kata de defesa pessoal, executado com as mãos nuas e também com espadas longas e curta, sendo executado em duas posições: ajoelhado e em pé;
- Ju-No-Kata – que se baseia no princípio de JU – suavidade é talvez um dos mais belos. È composto de três grupos de cinco técnicas;
- Koshiki-No-Kata – é um kata que tem suas origens nas lutas com armaduras, é composto por 21 técnicas que se apresentam de forma repetitiva, mesmo iniciando o ataque de maneira diversificada;
- Itsutsu-No-Kata – é o mais profundo, de difícil compreensão e desenvolvido por Jigoro Kano quando tinha apenas 21 anos, ainda não foi completada parando nas cinco primeiras técnicas as quais não foram sequer dado nomes. Refere-se a forças cósmicas dentro de um contexto, fazendo menção a movimentos centrífugos, ondulares e rítmicos;
- Sei-Ryoku-Zenyo – este seria o último Kata oficial do Kodokan, se não fosse a inclusão do Goshin-Jitsu. A finalidade deste kata é desenvolver o corpo e mente. Divide-se em dois grupos, sendo o primeiro de 28 técnicas realizadas individualmente e o segundo grupo de 20 técnicas realizadas em duplas;
- Goshin-Jitsu ou Shin-Kime-No-Kata (nova forma de defesa pessoal) – com o intuito de reintegrar com a atualidade a defesa pessoal, o Kodokan em 1953 nomeou vinte e um mestres para compor esse Kata, que ficou pronto em 1956 e ficou composto de vinte e uma formas (Virgílio, 1986).
Outras práticas que caem no esquecimento ou pouco utilizadas nos dojôs brasileiros, por falta de conhecimento e embasamento suficiente para a aplicação correta é o “kiai”, que pode ser traduzido como Ki- espírito e Ai- união, ou seja união dos espíritos. O Kiai, segundo Virgilio (1986, p. 140) pode ser definido “como uma concentração de forças físicas, morais, intelectuais e espirituais de cada um, usadas para atingir uma meta ideal” . Já para Robert (s/d) o kiai é uma espécie de grito especial , não modulado, emitido para reanimar ou subjugar e submeter o adversário ou ainda fazê-lo cair em síncope.
O kiai aplicado em artes marciais tem a respiração como base, ou seja, no momento da execução de um golpe, primeiro inspiramos e prendemos o ar, já com 70 a 80% do golpe em andamento, vem a explosão e a saída do ar, que preso, escapa com violência emitindo um som que caracteriza o kiai. A percepção e a sincronia coma respiração do adversário é muito importante, pois a defesa se fundamenta no ar comprimido no “tandem” (baixo ventre). Portanto nosso ataque deve ser efetuado antes da inspiração do oponente, pois assim este perde grande parte de sua estabilidade e poder de defesa.
O grito é fundamental no kiai, pois ele paralisa e desnorteia o adversário, quando o grito chega ao sistema nervoso central ele age como inibidor ou estimuladores, dependendo da forma que foi emitido. Os sons graves, de grau de intensidade menor, travam e demoram os movimentos respiratórios e cardíacos, baixam a pressão arterial e detêm a tensão nervosa. Os sons agudos, de escala elevada, aceleram a respiração, o coração e excitam a tensão nervosa. Quando ocorre um ataque no momento certo, com técnica excelente acrescido de um poderoso kiai, o organismo do atacado registra o som e o processo, segundo Robert (s/d, p. 383) é o seguinte:
“ – registro de som e inibição nervosa cardio-respiratória;
- despertar no subconsciente dos reflexos instintivos;
- desconexão nervosa com o córtex cerebral e aumento da emotividade (thalamus);
- perturbação do equilíbrio neuro-vegetativo e aumento dos fenômenos inibidores”.

O kiai deve ter convicção, força, concentração e muito treino, e, só deve ser executado após domínio de várias técnicas de projeção e desenvolvimento de auto domínio, auto conhecimento mediante as práticas de yoga (respiração), meditação, exercícios de contração e descontração mentais, dentre outros.
Outra prática abandonada é o chamado “mukusô”, ato de fechar os olhos e fazer silêncio, meditar. Esse procedimento deve ser utilizado ao final de uma sessão de treinamento, antecipando a saudação final, todos em sei-za (ajoelhado), o sensei ou o aluno mais graduado profere o comando de mukusô, para o qual os alunos fecham os olhos com o intuito de: relembrar o aprendizado, o desenvolvimento conseguido naquela sessão; relembrar os erros para saná-los e os acertos para reforçá-los e aprimorá-los; relembrar as atitudes morais durante as sessões. Com isto reforçando aspectos inerentes da filosofia do judô, dentre a qual deve ser sempre reforçado: NINTAI (perseverança, paciência), DORYOKU (esforço, empenho) e HISSHYÔ (ei de vencer).
Infelizmente, em nossas Associações, muito vem se perdendo na medida que o conhecimento judoístico vem sendo passado de gerações que cada vez menos se aprimoram teoricamente, afunilam apenas para a formação física, a destreza e as competições em geral, e, relega-se a um segundo plano a formação moral e espiritual através do Judô, que é sem dúvida o ponto alto desse esporte. Segundo Sugizaki apud Shinohara (1980, p. 1), citando as palavras de Jigoro Kano, as quais definem os propósitos da disciplina do Judô:
“ Judô é o caminho para a mais eficiente utilização das forças físicas e espirituais. Pelo seu treinamento em ataques e defesas, educa-se o corpo e o espírito e torna a essência espiritual do Judô uma parte do seu próprio ser. Desta forma será capaz de aperfeiçoar a si próprio e contribuir com algo para valorizar o mundo. Esta é a meta final da disciplina do Judô”.

Ainda, em reforço, segundo Sugizaki apud Shinohara (1980), a formação espiritual que deveria ser inerente ao treinamento do judoca, não tomou parte do progresso evolutivo do Judô, mas pelo contrário, ficou retraída e na sua grande maioria esquecida. Essa realidade foi comprovada por Santos e outros (1990), que ao estudarem a aplicação dos princípios judoísticos na aprendizagem do Judô, concluíram que muito embora técnicos e atletas admitam que o Judô possui uma filosofia, não demonstraram conhecimento da mesma. Infelizmente essa foi uma realidade detectada nos anos noventa, e atualmente, como será que o quadro se apresenta?
Autores remanescentes, tais como Yerkow (1974), comentava da existência de controvérsias em pontos de vista e na divisão das escolas nas formas e opiniões em como ocorre a aprendizagem e até mesmo o treinamento de Judô. Uma opinião é que toda a finalidade é simplesmente derrotar o adversário, e a outra consiste em ensinar os significados da palavra JU e DO (caminho da suavidade). Isto implica no estudo e na prática dos verdadeiros princípios da arte.
Virgilio (1986) comenta que, independente do objetivo com que se pratica Judô, tanto sendo para fins recreativos, competitivos, defesa pessoal ou lazer, os conhecimentos sobre os princípios e a filosofia do Judô devem ser constantemente embutidos em seus praticantes de maneira séria e responsável para que haja um progresso técnico, físico, moral e intelectual.
Desta forma, este acervo fica como um alerta para que futuros educadores de Judô busquem mais referenciais, desenvolvendo um excelente trabalho de base, realmente objetivando aproveitar o Judô como um todo, utilizando todo o seu conteúdo paulatinamente, para realmente auxiliar no desenvolvimento do seu educando.